Thursday, July 17, 2014

A arte de ser civilização

Houve um tempo em que a prioridade humana era a sobrevivência. Tempo em que se corria atrás do resultado como alguém que perde um jogo. A fragilidade física - a desvantagem - fez o homem perceber que enfrentar as adversidades sozinho era praticamente inviável.

Não obstante, não se tratava de mais uma espécie que aprendeu a viver em bando; houve um diferencial: o intelecto. Com ele, e vivendo em grupo, o homem superou grandes obstáculos, passou a ter vantagem no jogo da sobrevivência e deu origem à civilização. A sobrevivência per se tornou-se preocupação secundária. Deixamos de priorizá-la em prol da "busca (imediata) pelo prazer". Erroneamente.

A humanidade se ensoberbeceu. Subestima o próprio poder (de destruição).

E quando chegar a hora, nada vai adiantar ter ganhado o Prêmio Nobel de Economia. Afinal, mal se sabe ainda o que significa de fato sobreviver no ambiente em que se vive (em outras palavras, ser econômico, no sentido real). Rezo eu para que isto não aconteça, mas a humanidade ainda pagará um preço muito alto por deixar de priorizar a sobrevivência. A vida ainda é, e sempre será, o bem mais precioso.

Céticos infelizmente não faltam, bem sabemos. Ou aqueles que dizem: "não estarei vivo para ver", "besteira!"

Mas é onde eu pergunto: e a arte de ser civilização?

Sim, exatamente. Temos intelecto. Temos o "fogo dos deuses", comemos do fruto da "Árvore do Conhecimento". Construímos a Torre de Babel. As invenções não param e a tecnologia realiza milagres, bruxaria eu diria. Por que não aprender a sobreviver de verdade, quero dizer, ser civilizado? A cabeça foi feita para funcionar, certo?

Quebra-cabeças existem aos montes, muitos ainda sem solução. Mas este precisa impreterivelmente ser resolvido. A biosfera não é um poço infinito de recursos. O que implica que o PIB uma hora vai estagnar. O lucro - ah, o lucro! - um dia vai deixar de existir. A bolha finalmente vai estourar (como as bolhas de 1929 e 2008). Dez reais, um milhão de reais - tudo depende do valor que se dá às coisas. E no final das contas, o que continua sendo importante é se você tem uma vida boa e digna ou não.

A arte de ser civilização - é o que é a política, e cedo ou tarde você vai precisar dela, querendo ou não.

Tuesday, July 15, 2014

...nasci canhoto

Amigos, não se enganem, pois eu nasci canhoto.

Antigamente diziam que canhoto era coisa do demônio.

Mas o que quero dizer, na verdade, é que o meu coração é canhoto, não porque o coração fica do lado esquerdo do peito; é algo inerente à minha personalidade, não há como mudar.

Ex-canhoto? Jamais. Há vários deles, sei, que inclusive vêm com o discurso de que foram "convertidos", viviam na escuridão e viram a luz. O individualismo, a luz? Sei...

Não se enganem com a minha ironia, que beira à sinceridade. Eu jamais abandonaria minhas origens, jamais mentiria a mim mesmo. Quando sou irônico, é claro que é de propósito, pois assim é a ironia.

O que quero dizer com tudo isso? Quem me conhece sabe o que penso, e que não mudo de ideia fácil. Gosto, sim, de ouvir, gosto do contraditório, principalmente quando é inteligente. Quando não é, fica difícil. Muitas vezes o silêncio é a melhor resposta. Ou algo do tipo: "não concordo com você, mas respeito a sua opinião."

Mas às vezes me manifesto, até por pensar que o outro também tem o direito de conhecer um ponto de vista diferente. Não é para convencer, poucos conseguem. É simplesmente para saber que existe o "outro lado", o sinistro. Maligno? Depende de quem enxerga. Para alguns, eu posso fazer parte do problema; para outros, posso fazer parte da solução.

Falo do coração sinistro, mas a solução está na cabeça. Pense, reflita, analise, e tire as conclusões.

O que é ser humano? Há coisas boas e ruins, mas percebemos que dentre tantas coisas, o que o difere dos demais animais é a linguagem. Desenvolvemos linguagem complexa e interação complexa com os nossos semelhantes. A linguagem é fundamental para o desenvolvimento intelectual. Chegamos a tantas conclusões, frutos de observações, em boa parte graças à linguagem, pois ela se torna um veículo, um meio pelo qual o raciocínio evolui.

Linguagem existe porque existem o remetente, a mensagem e o destinatário. Existe a ideia do "outro". O homem não é nada do que é hoje sozinho. Ele é o que é hoje porque é plural, porque é social.

Posso ser tímido, pouco comunicativo, sério demais. Sim, em certo sentido, sou, como todos, individualista. Mas não faço disso minha bandeira, nem morto. Sou porque sou induzido a ser, porque tenho que "jogar o jogo". Mas sonho (e só sonho, porque é uma utopia) com o dia em que cada um enxergará no outro a sua própria família, em que cada um fará seu trabalho não porque terá uma recompensa, mas porque é a sua contribuição para a sociedade, porque com ele o mundo se tornará um lugar melhor de se viver.

Creio que há lógica nisso, e claro, sentimento. O sentimento do coletivo e de que todos são importantes.

Não tem jeito, sou canhoto e isso não muda. Faz parte de mim.