Friday, October 21, 2016

Ser ou não ser (conservador) – eis a questão... (Parte II)

Ao refletir sobre o Conservadorismo, um conflito se instalou em minha mente. Porque na busca pelo real significado da palavra e sua plena compreensão, divergiu-se o Conservadorismo que se praticou ao decorrer da História, em suas diversas formas, e o que passei a considerar como sendo o verdadeiro. Este, discreto e que se encontra, acredito eu, muito mais no campo das ideias, pouco parece ter sido posto em prática. O segundo, bem mais evidente, eu chamaria de pseudoconservadorismo.

Nesta parte discorrerei sobre este último, para posteriormente esclarecer sobre o outro.

Poderia, para explicá-lo, citar inúmeros exemplos, como os tories no Reino Unido, apegados ao poder da nobreza e inicialmente avessos às transformações que a ascensão do Parlamento britânico estava trazendo. Mas, como disse no post anterior, trata-se quase, senão sempre, de uma tentativa de reafirmar uma identidade como resistência a algo novo (ou diferente) que surge que possa mudar o status quo. E muitas vezes, o Conservadorismo se mostra preso ao passado.

No que concerne à sua ligação com o passado, entendo que este é até importante para a compreensão do presente e a projeção do futuro. Não obstante, a natureza e a história nos têm mostrado que tudo progride. Se a intenção que se tem é evitar o progresso, o conservadorismo (e aqui escrevo com letra minúscula mesmo) é daninho. É um reflexo, às vezes coletivo, do que Krishnamurti define como “condicionamento” e o apego ao ego. Todos nós temos, em algum nível, apego ao nosso condicionamento, nossa memória e ao ego. Mas a resistência a toda mudança, principalmente quando ela é benéfica, é um obstáculo à evolução da humanidade, tanto no campo individual como coletivo. Eu chamaria essa resistência de “inércia”.

A conservação da ética, da moral e dos bons costumes – leia-se maturidade – se consegue com o acúmulo de experiências (subentendendo-se neste acúmulo um processamento cada vez mais inteligente do conhecimento e das memórias adquiridas), e não com o engessamento da personalidade e conduta da sociedade.

Outra característica negativa do pseudoconservadorismo é a tentativa de “homogeneizar” a sociedade. Como existe certa rejeição àquilo que é diferente ou divergente (e isto é em certo nível natural do ser humano, com uns mais e outros menos), há a afinidade por aquilo que lhe é semelhante. Desta afinidade e apego a um “padrão” sociocultural, surge o desejo de tornar a sociedade mais homogênea.

E aqui está a semente para a intolerância.

Quando ela se manifesta de forma aguda, defino-a como “ultraconservadorismo”. O motivo é a relação que essas manifestações muitas vezes têm com extremismos, como a xenofobia, a homofobia, o racismo, o autoritarismo, a intolerância religiosa, etc.

Ao conjunto de tais características, muitas vezes combinadas umas com as outras, foi atribuído o título de "fascismo", ainda que este não seja especificamente seu sentido original. Ao significado que esta palavra acabou encarnando na sociedade, eu defino como sendo a “doutrina do medo”, medo do diferente, do divergente. A intolerância decorre da dificuldade em aceitar o que não está conforme ou no agrado de alguém – o que revela um grau muito forte de egoísmo e imaturidade.

Ao “ultraconservadorismo” falta sempre, porque lhe é próprio, a inteligência emocional, porque nesta inteligência está implícita a empatia e a cautelosa ponderação. É como uma criança quando é contrariada e tenta, até mesmo por meios forçosos e violentos, fazer prevalecer a sua vontade.

É uma abordagem política “antipolítica”, porque interdita o debate sério e a reflexão sóbria sobre determinado tema. Porque transforma a política num campo de guerra, e não numa plataforma de diálogo, com a finalidade de chegar a um acordo ou consenso entre as partes.

Daí o prefixo “pseudo”, porque a meu ver, é uma espécie de “antítese” da política.