Wednesday, November 8, 2017

Pensando com a própria cabeça – réplica ao “Nosso Coro Particular de Demônios” (Parte IV)

4. Existe evolução moral na humanidade?

A minha resposta é sim e não.

Contraditório? Sim. Porque a evolução humana é contraditória, tanto em seu aspecto biológico como em seu aspecto moral. E minha posição ambígua se baseia nas mesmas incertezas levantadas por Pondé em seu livro. Nesta pergunta ele foi bastante cauteloso - exceto no trecho em que ele cita a Coreia do Norte, porque nem todo crítico ao Capitalismo apoia um regime como o norte-coreano. Não se engane, contudo. Não sou do tipo que demoniza o Capitalismo.

Tentarei ser o mais breve possível, sem deixar de falar o essencial.


No que concerne ao aspecto biológico, é fácil chegar à conclusão de que a humanidade evoluiu. É o que diz a ciência - que não é a voz da verdade absoluta, mas costuma ser mais cautelosa em suas afirmações por se basear em provas, observações e experiências na maior parte das vezes. Nossa relação como sociedade, criando vínculos mais complexos e desenvolvendo linguagens mais inteligentes, também contribuiu para tal evolução. É algo que se estabeleceu em nossa memória genética e é passado de geração em geração.

Não obstante, a contradição em nossa evolução reside no fato de que nos tornamos uma ameaça para nossa própria existência e até para a vida em nosso planeta. Sobre isso, gosto de citar a cena do filme Matrix, em que o agente Smith, mantendo Morpheus como refém, afirma que o homem não é bem um mamífero por se aproximar mais de outra categoria de ser vivo - o vírus.

Se Smith estiver certo e formos mesmo um tipo avançado de vírus, sendo nossa sina a autodestruição - como o próprio Pondé observou - onde está a evolução biológica?

É possível que o processo evolutivo não seja uma espiral infinita, mas uma onda na qual atingimos um pico e depois decaímos até atingir o vale.

Na minha cabeça, só estará confirmada a verdadeira evolução humana em seu aspecto biológico se a civilização se adaptar ao ecossistema, à biosfera, e para tal só há um caminho: a gestão sustentável dos recursos naturais - a verdadeira Economia (o resto é charlatanismo).


Quanto ao aspecto moral, a evolução pode ser observada, por exemplo, quando comparamos povos como os vikings na Idade Média e os atuais países nórdicos. Para mim, a evolução moral é clara. O que não significa ignorar que tal evolução tenha seus pontos controversos. É certo que parte dessa sociedade "moralmente evoluída" se sustenta em um sistema global com fundamentos morais muito frágeis, repleto de paradoxos. O luxo de alguns muitas vezes é fruto do sacrifício e do sofrimento de tantos outros. E não me refiro a pessoas que voluntariamente se submetem a condições degradantes, mas a gente que é manipulada ou forçada a se submeter de forma desumana e opressora.

É perfeitamente crível, sim, que muitos que fazem parte dessa humanidade "moralmente desenvolvida" não desejam a permanência desses paradoxos que tornam o mundo mais injusto e desigual. Mas o que é feito para mudar essa realidade? Não que nada seja feito; há quem realmente trabalhe para mudar tal realidade. Mas será o suficiente? Quantos saem de sua zona de conforto para dar sua contribuição?

Como se observa, o tema é complexo e não há respostas simples. O próprio filósofo demonstrou incerteza ao dar seu ponto de vista - e com muita sensatez, há de se reconhecer.

Como o leitor pôde notar, não tenho um veredito. Mas minha fé faz acreditar que há sim, no fundo, uma evolução moral em que, para sua consolidação, muitos tombos e tropeços teremos que cair. Volto a dizer: a vida é um aprendizado, e creio que toda experiência servirá para algum propósito.