Monday, August 4, 2014

A classe média e a Síndrome de Estocolmo

Certa vez ouvi falar da tal Síndrome de Estocolmo.

Curioso, procurei me informar na internet sobre a origem do termo: um assalto a banco, quatro reféns, fato ocorrido em 1973, em Estocolmo. Dizem que, após seis dias de cativeiro, os reféns desenvolveram um certo vínculo afetivo com os bandidos.

A expressão passou a ser usada para descrever um estado psicológico em que a vítima, que sofre de algum tipo prolongado de intimidação, desperta simpatia pelo agressor. A síndrome é atribuída a uma necessidade, ainda que inconsciente, de autoproteção, um sentimento de afeição que serve de bloqueio para preservar a mente do sofrimento e desespero.

E como não raro costumo fazer comparações, indaguei a mim mesmo: não seria o que acontece com a classe média?

Primeiramente, esta, por ter "despertado a consciência e o senso crítico", considera-se diferente da classe pobre ignorante, enxerga-se como vítima do sistema e a principal prejudicada. Afinal, é a classe que mais paga impostos, a que mais trabalha e, claro, a menos beneficiada. Seria porque esta mesma classe média não tem o privilégio de ser contemplada pelo governo, como os ricos e os pobres?

Os ricos sempre ganham com o governo por causa de sua influência e poder, podem dizer. Os pobres são assistidos pelos programas sociais. Os primeiros fazem "lobby" para que as leis e o poder público sempre atendam as suas necessidades. Os segundos são vistos como "vendidos" através do assistencialismo, que alimenta sua ignorância e "ociosidade". Tudo em prol do status quo, um ciclo vicioso que tende a se manter até o fim dos tempos.

Conclusão: a classe média é a mais explorada e sempre paga a conta. Como Atlas que carrega o mundo, é ela quem carrega o país nas costas. Ou como a Senzala, que sustenta a Casa-Grande.

E o que isto tem a ver com a Síndrome de Estocolmo?

A vitimização já identificada, onde estaria o agressor? Nos dizeres de Paulo Moreira Leite, existem os "poderosos" e os poderosos. Os primeiros, a grosso modo, são o governo e a classe política em geral. Esta passa por um processo de deslegitimação - que renderia um outro post - por conta de sua conduta corrupta. São os "poderosos" com aspas, porque estes são condenados e presos. Já, os últimos são os poderosos per se, pouco aparecem e nunca são pegos. Ou, quando são pegos, recebem de um ministro da Suprema Corte, o Egrégio Supremo Tribunal Federal, dois habeas corpus num intervalo de 48 horas. Estes são quem subjugam o poder político - o poder econômico.

Ao que tudo indica, portanto, estes últimos - os agressores.

E não é absurdo dizer que a classe média, apesar da intimidação e da "exploração" por que passa, admira tais agressores, a ponto de, em casos mais agudos, querer imitá-los. Fazem, inclusive, a vontade deles: aderem ao coro da deslegitimação da classe política a la Tea Party, com todo aquele discurso de redução de impostos e corte de gastos com o social; e a principal delas: votam no candidato deles.

O exemplo mais extremo da síndrome talvez tenha sido o apoio que deram ao golpe, perdão, contrarrevolução militar, com a mídia sempre atuando como espírito santo de orelha.

Enfim, parece haver uma tendência natural da classe média adotar o dito pensamento conservador - o tipo de pensamento que elege Bushes e Berlusconis. E fico me perguntando se é uma forma de autoproteção, como ocorre na Síndrome de Estocolmo, pois sentem vergonha de serem eles mesmos (brasileiros), querendo ser como os europeus ou norte-americanos (como enxergam os agressores, ou colonizadores, eu diria?). Sofrem devido à "inferioridade" - o Complexo de Vira-Lata de Nelson Rodrigues - mas defendem, talvez sem saber, quem defende a Teoria da Dependência.

Não, esqueçam o que eu escrevi!

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