Friday, October 13, 2017

Pensando com a própria cabeça – réplica ao “Nosso Coro Particular de Demônios” (Parte II)

2. Existe vida após a morte?

Há quem acredite que sim, há quem acredite que não. Eu faço parte do primeiro grupo.

É inegável que existe certo incômodo com a ideia de que a morte é o fim, e para muitas pessoas isso é intragável. Se me perguntarem se eu sofro de tal incômodo, devo admitir que sim. E se acreditar na vida após a morte é uma forma de driblá-lo, a sinceridade me fará reconhecê-lo.

Contudo, não é só isso. Há também a questão da perspectiva. Porque em observação à natureza, percebo que quase tudo funciona em ciclos. Dia e noite, sono e vigília, estações do ano, ciclo da água, do carbono, do nitrogênio. A cadeia alimentar. O movimento dos astros, dos elétrons, etc. O ciclo é um padrão na natureza.

A morte é um estágio, uma fase; portanto, parte do processo da vida.

Outro detalhe a ser frisado é sua imprescindibilidade: num ambiente como o nosso, em que nos reproduzimos – ou seja, um ser humano gera o outro através do sexo, já que somos seres sexuais – a morte é algo fundamental e lógico; ela precisa existir, por uma questão de equilíbrio.

Ademais, um fato que se pode observar na natureza é a renovação. Os hindus enfatizam tal conceito através da trindade Trimurti, a mais importante de seu panteão. Eles cultuam o deus Shiva, que é o deus da destruição, mas também da renovação, e ele geralmente é retratado como um yogi, um deus casto. A minha interpretação para este aspecto da divindade é o de que a natureza sempre busca a evolução, o refinamento, e sobre isso me aprofundarei em outro post.

O ponto a que pretendo chegar é o de que nós humanos somos tão apegados a nós mesmos que, creio eu, seria mais fácil nos aprofundarmos mais ainda em nosso narcisismo e condicionamento, estreitarmos mais ainda nossa visão de mundo do que abrirmos mais a nossa mente, amadurecermos mais, tornarmo-nos pessoas mais compreensivas, se vivêssemos mil anos ao invés de cem (não são muitos os que chegam aos cem, eu sei). Por isso é que eu acredito que nosso tempo de vida é curto, porque Deus, ou a natureza (chame-o como quiser), busca sempre a renovação e o aprimoramento, e nos impede de nos afogarmos demais em nosso egoísmo e mesquinhez.

(e a morte muitas vezes parece não ser suficiente)

Retornando à questão dos ciclos da natureza, para completar o assunto, afirmo que como o corpo, feito de pó, retorna ao pó da terra (e esse é o fim de um ciclo), aquilo que nos torna vidas coesas, com individualidade, e que muitos denominam alma, também retorna à sua origem, que para nós, com a percepção voltada ao material, nos parece inacessível. No entanto acredito piamente nela, a Anima Mundi (não me prendo a conceitos pré-estabelecidos; aplicando tal termo apenas como o nome propriamente sugere). Somos constantemente influenciados por ela, para o bem ou para o mal, tal qual o inconsciente coletivo.

O Vinícius Lacerda, que escreve este texto, por exemplo, quando de sua morte, deixará de existir. É uma persona que a natureza há de descartar, e permanecerá viva somente nos registros e nas memórias das pessoas. Mas seu aspecto espiritual, que serviu de base para sua existência e manifestação no mundo, permanecerá. Para mim, este desempenha a função de backup – o checkpoint ou o savepoint dos jogos de vídeo – de forma a continuar de onde se parou, impedindo um recomeço ex nihilo.

O condicionamento existe porque ele é o principal indício da existência da reencarnação. As diferenças naturais entre as pessoas, as quais a ciência não consegue explicar através da genética ou da psicologia, como é no caso de irmãos gêmeos univitelinos, que são clones, cópias um do outro, teriam fundamento nessa bagagem espiritual. É o que garante a evolução psíquica e espiritual dos seres vivos, tendo a morte mais um papel de controle e renovação.

Para finalizar, a ideia de Pondé de que a imortalidade poderia ser infernal só faria sentido se esta fosse monótona. É verdade, muitos pregam a recompensa eterna – os Céus – ou o castigo eterno – o inferno – como destinos do pós-vida, os quais considero realmente monótonos e com os quais não concordo muito (pelas ideias que apresentei, o leitor pôde notar).

Os Céus e o Inferno são antes para mim estados de espírito do que lugares no além. Conceitos como a Roda de Samsara, os Dez Estados da Existência e o Nirvana – que é a libertação e em certo sentido uma aniquilação – soam mais coerentes e críveis aos meus ouvidos.

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